sábado, 17 de outubro de 2009

A Rota do Visconde



Último sábado de Setembro. Um dia para reflexão sobre o voto e o dever cívico de, no dia seguinte, o cidadão eleitor marcar presença nas urnas e exercer livremente o direito de votar. Acordava a manhã em Braga e o autocarro dava início à sua marcha: era o convívio da Confraria do Visconde e respectivas damas. Cumpria-se assim o signo do que antes uns dias fora estabelecido em franca e aberta reunião de confrades.

Lá à frente, o confrade Júlio, dava-se ao trabalho de recordar o itinerário e dar boa nota das localidades que nos ficavam na rota, não se coibindo de fazer campanha... desta vez aceitável, aos bons pratos gastronómicos de Figueira de Castelo Rodrigo e, com ela, a lembrar a ementa para o almoço que nos estava reservado e que era de fazer água na boca.

A conversa continuava, o riso espalhava-se pelo interior do autocarro, as palavras marcavam o ritmo à vida e a paisagem, lanço a lanço, ia ficando para trás com o Júlio a informar que já estávamos perto de Viseu. E era verdade! Não obstante faltarem ainda oitenta quilómetros para lá chegar.

Entretanto, a curiosidade levou-me a atirar um olhar de esguelha para o jornal aberto nas mãos do confrade Adolfo que ali esmiuçava as páginas chatas de um suplemento financeiro (não fosse este um ilustre profissional de finanças) em que eu, incorrigível cusca, pude ler, em letras garrafais, o seguinte título «Nos próximos vinte anos Portugal terá as reformas mais baixas da Europa ocidental» Que se lixe... nada de comentários, o dia era para reflexão e a campanha eleitoral terminara na véspera.

O autocarro ia engolindo a estrada ao largo de Mangualde, terra do escultor e mestre Jorge Ulisses, amigo de outras tertúlias, e o Artur Carvalho, lá mais à frente, a sugerir paragem para um mata-bicho e a descarga de um xixi. Sim senhor, muito bem lembrado, nem que fosse para desentorpecer as pernas e espalhar uma leve sonolência.

Finalmente todos os olhares se estenderam ao longo do fantástico e mágico planalto de Figueira de Castelo Rodrigo até aos confins do Douro que liga os dois países irmãos por entre o fraguedo ibérico. Ó, meu deus, como Portugal é bonito! Como a nossa terra tem tanto encanto e tanta beleza!

Depois a simpatia da jovem Telma Russo a falar-nos da história das ruínas do Castelo, das batalhas ali travadas, dos amores, das paixões e das traições então vividas, e eu a roer as unhas até ao sabugo e a lembrar-me das eleições livres que por voto secreto haviam de eleger quem governar o nosso país. Nem tanto, neste reduto, me passava pela cabeça o menu que no restaurante nos esperava: Cordeiro assado no forno.

Já no final, no último travo do licor, e respondendo à pomposa pergunta do nosso digníssimo Grão-mestre, Victor Magalhães, respondia-se: Que delícia!
Iniciou-se, então, a rota do visconde. E, de súbito, a festa, os cantares na praça, aquela esplêndida praça, e as vozes a darem corpo ao cancioneiro popular, a gargalhada e invadir a serenidade e a pacatez da vila. Depois, a admirável capacidade de mostrar que somos um povo alegre. E outra vez o Júlio a presentear os confrades com a beleza da terra onde nasceu, a maravilha da paisagem, nós a gozar do panorama que nos caía aos pés. E rota do visconde ia ao fim com aquela singular frase de quem deseja mais: até à próxima.





Carlos

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